quarta-feira, 10 de novembro de 2010

E Isso Foi Tudo


















Lembro do modo como pensava que fazia as pessoas sentirem-se sempre especiais e depois ela mesma não sentia-se assim, só as vezes. Andando pela casa, sozinha o dia todo, sem nada demais pra fazer, fazendo os mesmo planos de sempre, pensando no quanto era idiota. Depois ficou um tempo vendo-se em uma foto em que sorria para o nada. A mesma foto que os outros vão olhar e pensar que ela estava feliz de fato, mas as coisas não são tão simples. Não que não fosse feliz, mas tinha lá seus problemas, seus dramas, como outra pessoa qualquer. No fundo queria mesmo é que as pessoas não esperassem nada dela, isso sim seria uma boa. E sabia que isso era querer um pouquinho demais. Ficou um tempo ali pensando até que tudo parasse de fazer sentido. E isso foi tudo o que aconteceu.




(*Ilustração de Alexandra Levasseur)

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

BABY

















Você precisa
Saber da piscina
Da margarina
Da Carolina
Da gasolina
Você precisa
Saber de mim
Baby, baby
Eu sei
Que é assim
Baby, baby
Eu sei
Que é assim

Você precisa
Tomar um sorvete
Na lanchonete
Andar com gente
Me ver de perto
Ouvir aquela canção
Do Roberto
Baby, baby
Há quanto tempo
Baby, baby
Há quanto tempo

Você precisa
Aprender inglês
Precisa aprender
O que eu sei
E o que eu
Não sei mais
E o que eu
Não sei mais

Não sei
Comigo
Vai tudo azul
Contigo
Vai tudo em paz
Vivemos
Na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul
Você precisa
Você precisa

Não sei
Leia
Na minha camisa
Baby, baby
I love you
Baby, baby
I love you
(Caetano Veloso)



Espero voltar a escrever em breve

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

27 minutos de um dia de Sol















Tentemos outra técnica, apenas ouça a música e pense, pense sobre qualquer coisa. Ela deitou-se e permaneceu em silêncio por alguns instantes e depois disse:
- Por acaso você pensa que eu sou alguma idiota? Terapia no mundo funcionaria comigo.
E embora fosse mesmo idiota, ela sabia que a coisa toda nunca funciona. Mas insistiu, e por isso também posso chamá-la de idiota, permaneceu deitada ouvindo a música por alguns instantes, parecia satisfeita.
- Tudo bem, algumas coisas podem até funcionar, mas no fim de tudo só resta esta vontade de ser a “porra-louca” que eu sou, por que eu sou assim mesmo e pronto. Aquele tipinho que nunca serviu pra ser mãe, por que ainda é mimada, por que acredita nos seus luxinhos ou por que simplesmente não faz o tipo.
Nesse instante ela abraçou o travesseiro e virou-se de lado, como se fosse chorar, mas não o fez. Como ela podia ser tão tola? No fundo no fundo ela só fazia se anular, mas não seria eu quem lhe diria isso. Ela era bonita no fim das contas e as vezes eu tinha vontade de abraçá-la, mas dar-lhe conselhos não.
- Você me acha uma mulher bonita?
Sorri e ela pareceu entender que era mesmo.
- Eu posso até entendê-lo agora, mas em algumas horas estarei pensando diferente e fazendo drama, por que é isso que eu sempre faço, não é mesmo?
E foi exatamente nesse momento que eu tive uma vontade louca de acertar-lhe o rosto com a mão fechada, que depois a deixaria de olho roxo toda sofrida e chorosa. Eu apenas saí do lado dela e pensei em outra coisa qualquer.



(*ilustração de Anneli Oliander)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Os filhotes de gato e as Flores


















Estranhamente ela estava lá novamente, no jardim de sua antiga casa. Suas amigas daquela cidade tão distante, a segunda que havia morado em sua jovem existência, também estavam lá. Brincavam no jardim com filhotes de gato persa. Uma das gatinhas, a mais gorduchinha de todas, era a mais sapeca e tinha uma linda barriga rosada que dava uma vontade loucade apertar. O dia estava lindo, era inverno, mas havia um sol intenso que tomava conta das flores, dos gatos, das amigas, de tudo. Não havia medo, não havia tristeza e tudo parecia brilhar muito. Passaram a tarde no jardim, conversando, brincando com os filhotes, rindo de coisas bobas, fofocando e tudo parecia perfeito, nem mais nem menos...apenas perfeito. Anoiteceu e ela recolheu-se ao seu antigo quarto, que possuía as mesmas cortinas e colchas de borboletinhas rosa de sua infância. Adormeceu tão logo e foi um sono confotável e feliz. Pela manhã tomou café na cozinha com sua família e todos pareciam felizes, como em um comercial de margarina. Depois, ainda de pijama, resolveu voltar ao jardim e para sua surpresa os filhotes todos estavam lá, ainda adormecidos. Alguns dormiam dentro de flores, outros embolados pelo frio dormiam abraçadinhos. Eles estavam por toda parte e eram tão fofos dormindo assim. Voltou para dentro de casa para procurar a máquina fotográfica e antes resolveu mostrar à mãe como estavam lindos os gatos dormindo no jardim. E enquanto admirava aquela beleza boba acordou no escuro e nada mais havia, nem gatos, nem casa, nem mãe e nem flores.

*ilustração de Enia Paulo Lobo

Salve Jorge
















"e me lembro das vacas
que pintei certa vez na aula de arte
e pareciam bem
e pareciam estar melhor que tudo
ali."
(Vacas na Aula de Arte- H. C. Bukowski)


Ele era um homenzinho simples, mas de uma inteligência incrível e quando entrava na sala as meninas ficavam todas em polvorosa, menos Nádia. Nádia o admirava pela sua inteligência e certa elegância, por que ele estava sempre de barba feita, cabelos arrumados e roupas bem alinhadas, bem diferente dos homens que ela costumava reparar. Jorge falava muito bem, sabia muito de tudo e Nádia achava incrível ouví-lo falando de Bauhaus e tantas outras coisas que ela também gostava e que as outras as vezes pareciam nem entender. Tempos depois deparou-se com Francisco, também um ótimo profissional, na sua área, mas falava errado e não entendia muito bem de arte. Francisco não era um homem feio, era bem apessoado, mas quando abria a boca tudo ia por água a baixo. E então Nádia sentia uma estranha saudade do profissionalismo de Jorge, sempre tão preocupado, tão polido, atencioso e adorador de arte. Mas que saudade boba, ela pensou. Um dia serei eu que estarei lá, e ela sabia muito bem do seu potêncial, por que nesse estranho mundo sempre haverá lugar para todos, cada um do seu jeito, com suas limitações mas em perfeita harmonia.



*Ilustração de Lisa Bilvik

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Nonsense baby, nonsense


















“Estou nu, jogado no sofa olhando sexyshop virtual e pensando.. black cock power ou invasor?
importados ou nacionais? pilha AA ou bateria? Fico pensando pq ainda não inventaram um vibrador
da apple, sabe esses nano, que você põe e vai trabalhar, as pessoas pensam q vc ta segurando
um ipod e você está ótima, com aquele sorriso. Agora fiquei bobo com consolo hermafrodita, possui uma buceta e um penis, assim, tipo, um kit-buba, fico pensando se não eh influencia da lady gaga.” (L.L Jr.)

Por essas e outras que ela lembra dele e pensa: é por isso que somos amigos. Sempre gostou de bobeira, de bobagem, de absurdos. Certas misturas são explosivas, baby. Eles não eram diferentes, eram sim um perigo soltos por ai. E mais que tudo, ela entendia o raciocínio da figura, pois ela pensava igual. Tanta besteira, tanto tempo perdido...precioso tempo que passam juntos, quando podem.

*Ilustração de Ryan Berkley

Um Bocadinho de Tristeza



















“À frente do rosto dele estava
um outro rosto desconhecido
e o outro rosto não se movia.”
(O rosto atrás do rosto- Caio Fernando Abreu)

As lágrimas tornaram-se raras, não conseguia mais entender sua dor pelo que acontecia, nem sua saudade que parecia agora um bloco de pedra. Mesmo com a mágoa imensa, dessas grandalhonas, mesmo com o psicológico totalmente abalado, tão abalado que transparecia físicamente ela tentava dar forças as si mesma e seguir em frente. O amor já lhe havia sim, cortado rudemente as delicadezasda vida, dessa vez não seria diferente, afinal de contas o amor é isso mesmo: alegria e dor. O amor não se ensina na escola e nem deveria, afinal de contas como podemos falar de coisas que não podemos explicar? À sua frente uma linha piscando, o apartamento vazio, escuro e Cartola ecoando seus amores e desamores pelos cômodos. “Era uma alma velha” lembrou-se da frase de uma série, e sentiu-se assim ali parada, sozinha. Talvez essa era sua sina, aguentar as agruras da vida com um sorriso no rosto, sabe-se lá. No momento era preciso sorrir, juntar os pedaços pelo chão e esperar como Pedro pedreiro.



*Ilustração de Ben Tour

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Prostitutas Asiáticas



















Tava quente, quente de rachar e ela estava sentada numa dessas mesas de bar com propaganda de cerveja, com algumas sacolas a tira colo. De certo que estava tentando refrescar-se e descansar depois das compras. Calor realmente insuportável e São Paulo parecia ferver de gente, de sujeira, de podridão, cultura, pobreza, de tudo. Mas era o calor que fazia parecer tudo mais sujo e avermelhado que o normal, os carros pareciam pegar fogo. Enquanto ela bebia uma coca-cola gelada num copo vagabundo desses de boteco, seu telefone tocou, a ligação estava horrível, o barulho também:
-Oi, sou eu. É verdade que você está por aqui?
-Oi meu querido, estou sim. Ta tão difícil de te ouvir, fala mais alto.
-Vem aqui me visitar, estou por casa. Onde você está?
-Perto da praça tal, próximo a uma agência da Caixa.
-Então menina, meu prédio é aqui pertinho, perto das casas Bahia, sabe onde?
-Dou um jeito pergunto por ai, chego logo. Tô com saudade...
-Eu também, não vejo a hora...Vem logo

Ela levantou, ainda suada, pegou as sacolas, lutou para achar as notas em sua bolsa dentro da carteira, pagou pelo refrigerante e saiu. Andou meio sem rumo à princípio, mas foi perguntado para um, para outro e pronto, lá estava ela bem em frente a escadaria que levaria até a casa de seu amigo. Teve medo de seguir em frente, a escadaria estava tomada por prostitutas asiáticas maltrapilhas, maltratadas, umas fumavam crack em plena luz do dia, naquele sol, naquele verdadeiro inferno, e todas, todas elas tinhas feridas enormes nas pernas. Respirou fundo, resolveu seguir em frente, desviou de uma, depois de outra e mais outra e logo chegou ao topo. Sentiu-se num joguinho de videogame, algo como: oba, passei de fase. Na fachada do prédio algumas lojas esquisitas com produtos jogados aos montes em cestos, mendigos disputando lugar na calçada com suas cachaças, seus cobertores e seus cachorros sarnentos dos quais ela sentia mais pena do que dos próprios mendigos. Mas seguiu e o prédio era realmente bizarro, as escadas eram estreitas demais e em alguns andares travestis decadentes, que pareciam ter saido de um desenho das Jem e as Hologramas, fumavam seus cigarros vagabundos e sapateavam com seus saltos absurdamente altos. Subiu mais andares, e parecia que, quanto mais ela subia, mais estreitas as escadas ficavam e mais loucos cruzavam com ela. Nas portas dos apartamentos haviam pequenas janelinha com grades e nesse momento ela pensou: mas como eles conseguem viver nesse pardieiro?!? As pessoas por lá deviam dormir em pé e era isso.

*ilustração de Artaksinya

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Corações distantes ou o Presente














"Mê notícia de você
Eu gosto um pouco de chorar
A gente quase não se vê
Me deu vontade de lembrar"
(Cadê Você- João Donato e Chico Buarque)


"quero te dizer que no dia 8 de março de 2010 tu, inesperadamente, me deste um presente... e que com ele fiz aquilo que fazem todas as crianças que - encontrando enfim aquilo porque nunca procuraram e cujo valor lhes é adivinhado pela alegria com que recebem a descoberta, algo, afinal, muito similar ao que fazem os cães quando, também eles, encontram um grande prêmio -- enfim, com o presente que me deste fiz o que fazem as crianças e os cães que, ao que parece, sabem mais da vida do que tenho sabido: guardei, intocado, feito um tesouro. Ainda não sabia a utilidade nem do presente nem do meu guardar, mas hoje descobri: eu o usaria, eu o usei, quando eu tivesse saudade de um tipo de presente que não tenho mais tido, quando tivesse saudade, enfim, de um passar das horas em um deleite magoado. Agora posso dizer: obrigada."(Juliana M.S.)


Li, e demorou a cair a ficha porque bateu aquela saudade estranha que bate sempre que eu penso nela, em como ela é doce, em como ela é e sempre será especial na minha vida. Recebo também como um presente e faltam palavras e faltam até lágrimas as vezes, porque elas costumam ficar contidas quando esse tipo de saudade deixa meu coração apertadinho. Não sei fazer uso das palavras tão bem como ela sempre o fez, mas acho que o que vale sempre é a intenção...e a intenção aqui é de dizer que te amo sempre pelo que foi, pelo que és e pelo modo como me sinto inexplicávelmente orgulhosa de poder te chamar de amiga para todo o sempre.


*ilustração de Leslie David

sábado, 8 de maio de 2010

Os bichos que moram na minha cabeça


















Os bichos que moram na minha cabeça dividem-se basicamente em dois tipos: os bons e os maus. Apesar da grande diferença entre eles, os bichos parecem conviver em perfeita harmonia, não sei se isso é bom, o fato é que todos vivem lá e por vezes me deixam louca. Alguns bichos me chamam de feia o tempo todo, dizem que eu nunca vou ser ninguém e que não sou boa pessoa. Mas quem é que é? Eu me pergunto. Esses mesmos me fazem sentir insegura, tão insegura que as vezes tenho até medo de escrever palavras erradas e ai eu tenho que recorrer ao google pra procurar palavras simples e banais. Os bichos malvados gostam muito de álcool e quando eu lhes dou qualquer bebida alcoólica eles fazem festinha na minha cabeça e eu fico feliz por que ai eles param de dizer coisas ruins lá dentro. Os bichinhos bons não reclamam do álcool, só no dia seguinte. Eles são minoria e vivem tentando convencer o bichinhos malvados que o que eles dizem não está certo, mas como são minoria a coisa toda nunca funciona. E os bichos malvados gostam tanto da minha cabeça (deve ser confortável lá dentro) que eles moram lá a muito tempo e parecem não querer sair nunquinha. Em alguns períodos eles parecem hibernar, mas são períodos raros. Na maior parte da infância isso aconteceu e depois apenas duas ou três vezes na vida adulta. Quando isso acontece o mundo até parece um lugar bonito de se viver e eu pareço uma pessoa bonita e amigável. Mas depois tudo volta a ser como era e eu quase acredito que eu não nasci para este mundo e que a vida é dura e que as pessoas são cruéis, como os bichos, como eu.


(*ilustração de Zhou Fan)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Oito e vinte: movimento circular invonluntário














"Deixo tudo assim
não me acanho em ver
vaidade em mim
Eu digo o que condiz
Eu gosto é do estrago"
(O Velho e o Moço- Rodrigo Amarante)

Com a ponta do dedão do pé, o outro (ainda dormindo), fez um movimento circular involuntário em seu pé. Ela acordou de súbito, achara curioso aquilo; Olhou para o lado, mas o outro dormia profundamente. Ela levantou-se e foi até o banheiro, olhou-se no espelho, cabelos desgrenhados, pele levemente oleosa. Sentou-se e fez xixi, desses xixis bem longos que o corpo acumulou durante uma noite inteira. Levantou-se, e ao acabar ficou novamente de frente para o espelho. Ficou ali parada por alguns segundos observando cada detalhe e sentiu-se até bonita ali daquele jeito, meio amassada mesmo, que gostava de sua pele e as vezes achava bonita demais para ele. Antes de dar a descarga cuspiu, só depois disso é que mandou sua urina pra bem longe. Ainda insone lembrou que não gosta do barulho que a descarga faz, tinha medo desde criança, mas nunca soube bem o motivo. Voltou arrastando-se para o quarto onde o outro ainda dormia, abandonou seus chinelos macios perto da cama e deitou-se novamente. Cobriu-se um pouco na região da barriga, deixando pernas e pés de fora, gostava assim, desse jeito. Fechou os olhos tentando dormir novamente, mas ai a cabeça já estava a mil por hora. Incrível como os pensamentos matinais lhe surgiam assim loucamente, um atrás do outro e era difícil concentrar-se num só e seguir pensando somente nele. Começou pensando que precisava emagrecer, depois pensou que queria sexo, e depois que a casa precisava de arrumação, e que devia arrumar um emprego, pensou nos médicos que visitaria, na família, em alguns amigos e tantas outras coisas lhe surgiram que depois de tanto tempo e mesmo com muito esforço era quase impossível recordar-se. E pensar que todo mundo no mundo tinha problemas não mudaria em nada o modo como ela vinha se sentindo ultimamente.


*ilustração de Carmen Garcia Huerta

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Quando um fantasma se diverte (ou não)


















"Relaxando e saboreando um simpático e
quieto cigarro. E seus lábios caíram no chão"
(Fumantes de Paulo César Peréio)

E foi exatamente ali, naquele lugar tão distante, que de repente ele lhe surgiu. Como se tivesse se teletransportado, numa dessas máquinas coloridas e cheias de luzes que só existem na nossa imaginação ou nos filmes de ficção, e se materializado ali na sua frente, bem no meio da chuva. Quis trancar a respiração, não conseguia; Quis ter qualquer certeza, mas não tinha. Ficou ali paralizada pensando que alguém havia lhe apontado um controle remoto e apertado o botão PAUSE, se isso fosse possível, mas não era. Pensou que não podia ser, mas era. E só teve certeza quando o viu sozinho num canto como de costume e então na luz pôde observar bem seus pés...era ele, não lhe restavam dúvidas. Mas que diabos aquele velho fantasma solitário parado com todos os seus silêncios fazia ali? Observou-o no meio de toda aquela gente, no meio daquela fumaça e seguia achando um tanto enigmático. Que no fundo sempre teve um pouco de pena, um pouco de admiração, mas que não passava de um fantasma divertindo-se, ou não. Por fim decidiu ir embora, que aquilo não fazia mais parte de seu mundo. E assim o fez, partiu em paz.

*ilustração de Jesse Auersalo

segunda-feira, 15 de março de 2010

Sobre como não valíamos nada


















"while you are away
my heart comes undone
slowly unravels
in a ball of yarn"
(Björk- UNRAVEL)


Pensei em você, não era raro de acontecer, não, isso acontecia sempre. Pensei se você estava melhor agora, achei que sim, que talvez, mas nunca cheguei a ter certeza. E isso porque que você se parece muito comigo no modo como sente, sei só de saber mesmo. Sei disso também e muito porque nós costumávamos conversar sobre todas as coisas e nunca tivemos vergonha do modo rude que tínhamos de encarar a vida. Havia certa podridão naquilo tudo, mas não precisávamos esconder um do outro e isso era puro. As pessoas costumavam, e acho que ainda costumam, não entender nosso deboche, nossa ironia, nosso riso escrachado; Mas penso que isso sempre foi uma maneira, besta talvez, de exteriorizar nossas angústias, nossas dores. Agora estamos tão longe, mas sempre lembro de você, lembro como uma coisa amarga, amarga e doce, exatamente como eu. E saber de você vezenquando também é dor. Porém, sei que quando penso em você, sobre as coisas que eu queria te dizer, ou deveria te dizer e eu esqueço, essas coisas ficam perdidas flutuando numa dimensão qualquer tão próxima de mim, de você, da gente e aproxima essa distância estranha. Você aí e eu aqui, e todos esses kilometros que vão diminuindo quando as coisas que eu quero te dizer ficam suspensas nessa dimensão que eu criei só pra dizer que eu te amo tanto.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Naquele tempo


Naquele tempo, ou naquele dia, em especial havia acordado de um pesadelo dos grandes. O namorado havia lhe traído, acordara no meio da noite, mas o viu ao seu lado, dormindo como um anjo; Virou a cabeça e voltou a dormir...não era nada, nada acontecera. Pela manhã continuou com a sensação ruim causada pelo sonho, mas seguiu em frente mesmo assim. E continuou como sempre, mesmo com a sensação ruim que tomava conta de seu corpo. E continuou por que é assim que as coisas são. Naquele tempo ainda era difícil marcar um horário com o psiquiatra e com o cirurgião; E naquele tempo as tardes ainda eram tão longas. Naquele tempo, naquela tarde, naquela hora, naquele exato minuto a sensação ruim já havia passado e ela esperava deitada que o tempo passasse sem mesmo saber porquê.

*ilustração de Ben Tour

Brincando de escrever

Fazia tanto tempo que até achava que havia esquecido, ou esqueceu-se mesmo...é o que queria saber. Assim, por que as vezes lhe fazia tanta falta e uma simples agenda não supria a necessidade, nem todas aqueles papéis antigos...por isso resolveu tentar, agora dessa maneira.