quinta-feira, 5 de agosto de 2010

27 minutos de um dia de Sol















Tentemos outra técnica, apenas ouça a música e pense, pense sobre qualquer coisa. Ela deitou-se e permaneceu em silêncio por alguns instantes e depois disse:
- Por acaso você pensa que eu sou alguma idiota? Terapia no mundo funcionaria comigo.
E embora fosse mesmo idiota, ela sabia que a coisa toda nunca funciona. Mas insistiu, e por isso também posso chamá-la de idiota, permaneceu deitada ouvindo a música por alguns instantes, parecia satisfeita.
- Tudo bem, algumas coisas podem até funcionar, mas no fim de tudo só resta esta vontade de ser a “porra-louca” que eu sou, por que eu sou assim mesmo e pronto. Aquele tipinho que nunca serviu pra ser mãe, por que ainda é mimada, por que acredita nos seus luxinhos ou por que simplesmente não faz o tipo.
Nesse instante ela abraçou o travesseiro e virou-se de lado, como se fosse chorar, mas não o fez. Como ela podia ser tão tola? No fundo no fundo ela só fazia se anular, mas não seria eu quem lhe diria isso. Ela era bonita no fim das contas e as vezes eu tinha vontade de abraçá-la, mas dar-lhe conselhos não.
- Você me acha uma mulher bonita?
Sorri e ela pareceu entender que era mesmo.
- Eu posso até entendê-lo agora, mas em algumas horas estarei pensando diferente e fazendo drama, por que é isso que eu sempre faço, não é mesmo?
E foi exatamente nesse momento que eu tive uma vontade louca de acertar-lhe o rosto com a mão fechada, que depois a deixaria de olho roxo toda sofrida e chorosa. Eu apenas saí do lado dela e pensei em outra coisa qualquer.



(*ilustração de Anneli Oliander)

Nenhum comentário: