segunda-feira, 21 de junho de 2010

Prostitutas Asiáticas



















Tava quente, quente de rachar e ela estava sentada numa dessas mesas de bar com propaganda de cerveja, com algumas sacolas a tira colo. De certo que estava tentando refrescar-se e descansar depois das compras. Calor realmente insuportável e São Paulo parecia ferver de gente, de sujeira, de podridão, cultura, pobreza, de tudo. Mas era o calor que fazia parecer tudo mais sujo e avermelhado que o normal, os carros pareciam pegar fogo. Enquanto ela bebia uma coca-cola gelada num copo vagabundo desses de boteco, seu telefone tocou, a ligação estava horrível, o barulho também:
-Oi, sou eu. É verdade que você está por aqui?
-Oi meu querido, estou sim. Ta tão difícil de te ouvir, fala mais alto.
-Vem aqui me visitar, estou por casa. Onde você está?
-Perto da praça tal, próximo a uma agência da Caixa.
-Então menina, meu prédio é aqui pertinho, perto das casas Bahia, sabe onde?
-Dou um jeito pergunto por ai, chego logo. Tô com saudade...
-Eu também, não vejo a hora...Vem logo

Ela levantou, ainda suada, pegou as sacolas, lutou para achar as notas em sua bolsa dentro da carteira, pagou pelo refrigerante e saiu. Andou meio sem rumo à princípio, mas foi perguntado para um, para outro e pronto, lá estava ela bem em frente a escadaria que levaria até a casa de seu amigo. Teve medo de seguir em frente, a escadaria estava tomada por prostitutas asiáticas maltrapilhas, maltratadas, umas fumavam crack em plena luz do dia, naquele sol, naquele verdadeiro inferno, e todas, todas elas tinhas feridas enormes nas pernas. Respirou fundo, resolveu seguir em frente, desviou de uma, depois de outra e mais outra e logo chegou ao topo. Sentiu-se num joguinho de videogame, algo como: oba, passei de fase. Na fachada do prédio algumas lojas esquisitas com produtos jogados aos montes em cestos, mendigos disputando lugar na calçada com suas cachaças, seus cobertores e seus cachorros sarnentos dos quais ela sentia mais pena do que dos próprios mendigos. Mas seguiu e o prédio era realmente bizarro, as escadas eram estreitas demais e em alguns andares travestis decadentes, que pareciam ter saido de um desenho das Jem e as Hologramas, fumavam seus cigarros vagabundos e sapateavam com seus saltos absurdamente altos. Subiu mais andares, e parecia que, quanto mais ela subia, mais estreitas as escadas ficavam e mais loucos cruzavam com ela. Nas portas dos apartamentos haviam pequenas janelinha com grades e nesse momento ela pensou: mas como eles conseguem viver nesse pardieiro?!? As pessoas por lá deviam dormir em pé e era isso.

*ilustração de Artaksinya

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